A espera tem validade.

Um dia tive um coração inteiro, intacto.
Veio o sereno e molhou...Pra ele tudo parecia uma grande tempestade.Ás vezes não tem jeito, nosso peito é mais frágil que o ninho do João de Barro.
No dia seguinte, eram mil cacos espalhados por lugares que não conhecia.
O tempo passa e é preciso saber pisar sobre caminhos improváveis, sem reclamar do que não se tem mais, sem sonhar com a volta de um barco que, sem rumo e leme, foi de encontro ao nada de outros braços.
E é ao nada de outros braços que acaba-se por buscar um atalho.Espalhar os pequenos cacos que restaram pelo mundo é como se colasse cartazes em todos os postes da cidade, é uma tentativa de tentar reunir tudo e ter-se por inteiro mais uma vez. Mas como os vasos que se quebram, assim o coração do feitio mais nobre também não se cola perfeitamente mais uma vez...Ele é agora da linha mais pura dos vagabundos e está nos anúncios das páginas do meio dos classificados da segunda feira em um destaque sutil de letras miúdas fugindo a regra das lojas de quinquilharia dizendo: "Procura-se".
Não se vende o que um dia nasceu sonho, depois virou plano e hoje são algumas gramas de poeira...Porque um dia talvez chova novamente sobre todos esses cacos e se reflita no céu como um mapa, o caminho de volta pra casa, aquela que esfarelou...Ou talvez toda essa areia só sirva pra marcar o tempo que nos escapa e impõe uma data limite pra que o anúncio não desbote e se apague de vez.
Um dia pés cansados pedem chinelos novos.